Participar do PROLER é sempre uma experiência marcante. Após subir as escadas da Fundação Cultural de Blumenau, na antessala do evento, é praxe se deliciar nos estandes de livros para comercialização. Neste ano quem expõe é a Flávia, vendedora de livros conhecida aqui da região. Ali são vendidos livros dos palestrantes para a sessão de autógrafos que acontece ao final da noite. Também são comercializados diversos livros infantis, juvenis, de ficção e teóricos sobre a arte de contar histórias, leitura e literatura.
O grupo Amigos da leitura de Gaspar leu textos de Fabrício Carpinejar (palestrante da noite) dentro da programação cultural. As meninas desse grupo são ousadas, convidaram o próprio Fabrício para participar da cena, e ele aceitou. Foi marcante e divertido.
Carpinejar dispensou palco e poltrona, encaixou um microfone no rosto, desses que permitem caminhar e discursou para uma plateia de aproximadamente 200 pessoas, em sua maioria mulheres. Quem não soubesse que Fabrício vem da literatura, poderia até pensar que seu discurso estivesse mais para um psicólogo ousado, especialista em relacionamentos amorosos, desses que não tem medo de tocar nas feridas. Aliás, ele quer mais é que descasquemos as feridas para desvendar o que vem depois.
O magistral é que Fabrício fala coisas absurdamente verdadeiras e absurdamente humanas e, pasmem, as pessoas acham a maior graça. Ele consegue fazer o que muitos escritores gostariam, falar das desgraças do humano por meio do riso, tal fez Cervantes em Dom Quixote, o precursor do romance. E faz isso com textos altamente poéticos.
Descrevo Fabrício como um homem que usa anéis, pinta as unhas e tem um sorriso delicioso, exposto nas inúmeras gargalhadas que dá no decorrer da palestra, ou conversa, pois eu não consigo chamar de palestra o que vivenciei, quase me senti numa roda de amigos, tão próximo ele se coloca e dialoga com o público.
Fabrício em nenhum momento falou dos seus livros, nem discorreu teoricamente sobre o título da palestra (A força do humor nas crônicas e as diferenças do gênero em relação ao conto e ao artigo), Fabrício faz melhor, é o próprio texto (gênero) em cena.
Eu que nunca faço perguntas, não me contive, perguntei o que ele tem lido ultimamente. Citou diversos autores: Montaigne (ensaios), Zambra (recomendado na noite de ontem por Schroeder), Ivana Arruda Leite (ficção), Antônio Prata (crônicas) e Júlia Lopes (poesia).
Um excelente escritor e conhecedor da alma humana, como de fato ele é, só podia ser um grande leitor. Pelos nomes citados percebi que ele está atento ao que tem de melhor na literatura atual, sem deixar de conhecer os cânones. Boa parte da sabedoria de Fabrício, deduzo, vem das leituras que fez na vida, não importando o suporte.
Suzana Mafra
Bibliotecária e escritora, integrante do PROLER