Somos seres ficcionais



A noite de segunda-feira, 13/05, do 17º Encontro Regional do PROLER, abriu com poesia. O grupo Uni Duni Tê, de Timbó, apresentou um recital com poemas de Elias José, do livro Alice no País da Poesia, que encantou a todos.

A palestrante Ninfa Parreiras é teórica, mas também escritora e psicanalista. Transita com leveza nessas três áreas, muitas vezes entrelaçadas. Seu discurso é acessível e elucidativo, consegue explanar conceitos teóricos, a partir de sua trajetória e vivências.

Se para Schroeder, respiramos literatura, para Ninfa somos seres ficcionais. Considera que, a partir do momento em que acordamos e escolhemos uma roupa, já estamos criando uma persona, já estamos inventando o que seremos na vida. Por isso adoramos histórias (ficção).

Colocou a literatura no pedestal e não se vangloriou dos próprios escritos, mas dialogou abertamente sobre seu processo criativo, considerado por ela bastante intuitivo. Afirmou que o texto literário vem intuitivamente, querendo dizer que é o texto que procura o autor.

A palestra com Ninfa foi muito apropriada para a formação do PROLER, pois discorreu sobre temas importantes aos mediadores de leitura, como os contos dos Irmãos Grimm e de Hans Christian Andersen. Os Irmãos Grimm, filólogos, descobriram nos relatos coletados junto ao povo, que muitas das histórias se repetiam em comunidades distantes uma das outras. Já Andersen, não apenas coletou, mas escreveu diversas histórias e, em sua maioria, com finais que não são felizes.

Ninfa pegou o gancho dos “finais não felizes” dos livros e fez um paralelo com a vida que, segundo ela, não é nada fácil, pois temos que lidar com adversidades, como perdas, decepções, frustrações. Contudo, sugere ela, a vida fica muito melhor com a literatura, fica mais rica, com mais possibilidade de conhecer a si mesmo e os outros.

A autora também enfatizou, em relação aos contos clássicos, a importância de lermos as traduções feitas a partir dos originais. Considera uma pena que os livros didáticos trazem apenas recortes das obras literárias, mas sugere que a escola busque ampliar o repertório de leitura dos alunos com os acervos das bibliotecas.

Cada um de nós tem uma bagagem de vida diferente, por isso a recepção da leitura será subjetiva, cada um gostará da leitura que lhe tocará, pois a literatura nos coloca em contato com a nossa intimidade. Por isso se fala da morte do autor (Barthes), por conta dessa recepção do leitor, indiferente à intenção do autor.

Enfatizou a importância dos grupos ou clubes de leitura, oportunidade de afetividade e diálogo sobre literatura entre pessoas. Convidou todos a participarem do Movimento por um Brasil Literário (ver site www.brasilliterario.org.br).

Sobre o prazer de escrever, Ninfa diz “eu me sinto muito bem depois que concluo um texto”.

Suzana Mafra
Bibliotecária e escritora – integrante do comitê do PROLER
Prefeitura de Brusque

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